sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

 

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA

 

 

EXPRESSÃO ARTÍSTICA: UMA EXPERIÊNCIA COM JOGOS DRAMÁTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

 

BUENO, Solange Neves

 

Acadêmica do Curso de Pedagogia EAD – Polo de São Lourenço do Sul.

 

 

 

RESUMO

 

O presente estudo buscou analisar a importância dos jogos dramáticos na Educação Infantil e sua contribuição para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo de ensino aprendizagem. Para buscar responder o objetivo proposto, optou-se pela pesquisa participante. Elegeu-se como instrumentos para a coleta de dados, a observação participante e o Diário. O contexto investigado foi uma Escola Municipal de Educação Infantil, que atende em média oitenta alunos. Os sujeitos participantes da pesquisa foram os alunos da turma do Maternal II, composta de vinte e dois alunos, sendo que oito são meninas e quatorze meninos. Durante o Estágio Supervisionado na Educação Infantil, foram utilizadas diferentes linguagens do jogo dramático no desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo de ensino aprendizagem, tais como brincadeira de faz-de-conta, interpretação de histórias e músicas (improvisação e dramatização). Proporcionar reflexões acerca da formação docente, ressaltando a importância da formação continuada. A partir da análise das observações das atividades propostas, dos registros diários e do contexto pesquisado, foi possível perceber a importância de inserir atividades onde os jogos dramáticos estejam presentes, pois auxiliam no desenvolvimento da oralidade, da socialização, da criatividade, da expressão corporal como meio de comunicação social. Pode-se pontuar como contribuições do jogo dramático no desenvolvimento das habilidades necessárias ao processo de ensino aprendizagem na Educação Infantil, o desenvolvimento da expressão oral e corporal, por estabelecer relações lógicas, trabalhar interações e habilidades sociais na turma.

 

 Palavras-chave: Jogos dramáticos; Educação Infantil; Ensino aprendizagem.

 

 

 

 INTRODUÇÃO

 

 

Ao longo dos tempos, a experiência com jogos dramáticos enquanto atividade educacional continua a estimular o pensamento e educadores contemporâneos, pois a expressão artística e corporal está presente praticamente em todas as culturas.

O trabalho com jogos dramáticos na instituição escolar infantil tem uma importância fundamental, considerando que assim o aluno aprende a improvisar, desenvolve a socialização, criatividade, coordenação, atenção, oralidade, leitura, expressão corporal, habilidades para as artes plásticas. Além de trabalhar o emocional, cidadania, ética, sentimentos, interdisciplinaridade, propicia o contato com obras clássicas, fábulas infantis.

O Jogo Dramático infantil consiste em uma atividade onde os envolvidos se utilizam de elementos pessoais para seu desenvolvimento, como criatividade, jogo de imaginação, fantasia e emoção, geralmente, tendo como temas os contos de fadas, fábulas, poemas, datas comemorativas, entre outros.

Optou-se pelo referido tema, pois, durante as observações realizadas na escola de Educação Infantil, notou-se a necessidade de explorar mais essa área do conhecimento, visto que os professores que atuam neste nível de educação desenvolvem poucas atividades relacionadas aos jogos dramáticos em sala de aula. Sendo assim, torna-se importante realizar uma pesquisa para buscar saber quais são as contribuições que os jogos dramáticos podem trazer para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo de ensino aprendizagem dos alunos na Educação Infantil?

Para dar conta da problemática proposta, este trabalho tem como objetivo geral: analisar a importância dos jogos dramático na Educação Infantil e sua contribuição para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo de ensino aprendizagem.

Definiram-se como objetivos específicos: descrever e relacionar as diferentes linguagens utilizadas nos jogos dramáticos na Educação Infantil e sua importância; proporcionar atividades lúdicas e pedagógicas onde o jogo dramático esteja inserido no planejamento diário; refletir acerca da formação docente, em relação à preparação destes profissionais, para o trabalho com jogos dramáticos na Educação Infantil.

  Através do referido estudo, espera-se trazer subsídios para que os educadores que atuam neste nível de ensino possam refletir acerca das contribuições que os jogos dramáticos podem trazer para o desenvolvimento das habilidades necessárias no processo de ensino aprendizagem.

 

 

2 METODOLOGIA

 

 

Este estudo utilizou a pesquisa participante, visto que se trata de um enfoque de investigação social e é considerada a mais indicada para esta pesquisa. De acordo com Severino (2007), denominada como um tipo de pesquisa, onde o observador compartilha o cotidiano dos sujeitos estudados, participando de forma sistemática e permanente durante as pesquisas e nas atividades relacionadas aos objetos de estudo. O pesquisador busca espaços para a aproximação e a construção da identificação dos sujeitos pesquisados, passando a interagir com eles em todas as situações.

  O contexto investigado foi uma Escola Municipal de Educação Infantil Tia Margarida, situada à Avenida Marechal Floriano Peixoto 2777, no Bairro Lomba, tendo como órgão mantenedor a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto.

A escola atende aproximadamente oitenta alunos, com idades de quatro meses e meio a quatro anos de idade, divididos em quatro turmas: Berçário I crianças de quatro meses e meio até um ano de idade, Berçário II crianças de um ano até dois anos de idade, Maternal I crianças de dois até três anos de idade e Maternal II crianças de três anos até quatro anos de idade. A comunidade escolar é constituída principalmente por pessoas de classe média baixa.

Os sujeitos participantes da pesquisa foram os alunos da turma do Maternal II, composta de vinte e dois alunos, sendo oito meninas e quatorze meninos. As crianças eram bastante participativas, apresentando comportamentos variados, ou seja, uns mais calados, outros mais extrovertidos e, em relação às atividades onde os jogos dramáticos estavam inseridos, percebia-se que os alunos gostavam e se envolviam nas atividades de maneira satisfatória.

Para a coleta de dados, utilizou-se a observação participante e os registros descritos no diário de aula. Segundo Chizzotti, na observação participante

 

[...] o observador participa em interação constante em todas as situações, espontâneas e formais, acompanhando as ações cotidianas e habituais, as circunstancias e sentido dessas ações e interrogando sobre as razões e significados dos seus atos (2009, p.91).

 

 

Para Zabalza (1994), diário de aula é muito importante e necessário, pois nele estão contidas as reflexões, os pensamentos e as dificuldades encontradas em práticas pedagógicas, correspondendo ao momento de desenvolvimento profissional via “reflexão da ação”, podendo o professor posicionar-se melhor no exercício da docência, diante de situações reais, concretas, relativamente inesperadas, ao qual o ele pode estar previamente preparado.

Deixando assim o pesquisador a par da realidade ao qual está inserido, sendo considerada a técnica mais apropriada para esta pesquisa, visto que o presente artigo esteve vinculado à prática do Estágio Supervisionado na Educação Infantil, pois a mesma coloca o pesquisador direto com a ação observada.

A análise dos dados foi realizada de forma descritiva, sendo que se procurou descrever as vivências em sala de aula. Portanto, a pesquisa evidencia, através dos estudos e das observações feitas na Educação Infantil, a importância da inserção de atividades onde os jogos dramáticos estejam presentes, possibilitando aos educadores uma reflexão em torno da temática proposta.

 

 

3 JOGO DRAMÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

3.1 Conceituando o Jogo Dramático

 

O jogo dramático antecede o jogo teatral[1], pois consiste em uma atividade lúdica de interpretações, dramatizações e improvisações do universo pessoal, que aliado à educação possibilita aos alunos um conhecimento lúdico e diversificado, havendo um ambiente livre onde a criança libera as suas potencialidades e aprimora as suas capacidades.

Desta forma, o educador deve propiciar a estes educandos, espaços pedagógicos, a fim de que os alunos sintam-se estimulados a experimentar o teatro, possibilitando um maior contato consigo mesmo e com o grupo no qual está inserido, pois além de constituir em uma atividade que as crianças apreciam bastante, também proporcionam a construção de aprendizagens, possibilitando uma forma de ensino mais dinâmica e motivadora.

Olga Reverbel (1997) observa que os principais estudiosos do assunto salientam o quanto o jogo dramático é importante para o desenvolvimento e a expressão corporal do aluno e apresenta a improvisação como a base do jogo. A respeito da improvisação Viola Spolin (1992), afirma que improvisar é resolver os problemas imediatos, que surgem no "aqui e agora", nos momentos de atuação ou improvisação.

Durante as atividades educativas, os jogos dramáticos possibilitam às crianças improvisarem, buscando soluções inusitadas para as situações que lhes são apresentadas, interagindo de maneira individual ou em grupo, brincando e aprendendo.

Quando a criança interpreta uma personagem ou dramatiza uma situação, mostra uma parte de sua personalidade, revelando a sua percepção de mundo, sendo considerada uma atividade artística onde o educando passa a expressar-se, explorando todas as formas de comunicação humana.

 Assim melhora sua autoestima, ampliando sua visão crítica, torna-os mais abertos ao mundo em que vive, valorizando-os e integrando-os harmoniosamente junto a uma equipe, um grupo, tornando-o um indivíduo mais responsável e cooperativista. Além disso, possibilitando-lhe o crescimento individual e grupal, propiciando-lhe a complementaridade das diferenças, fortalecendo na criança os laços e promovendo o respeito mútuo, fazendo com que aprenda diante da diversidade.

Segundo Camarotti (1984, p.31), “o jogo dramático Infantil constitui-se em uma encenação da realidade, mas não é teatro, pois não é feito para ser levada a um público e nele a criança não representa propriamente uma personagem, mas apenas se libera, interpretando a si mesma”.

 

3.2 Jogos dramáticos na Educação Infantil: possibilidades de expressão da criança

 

Os Jogos Dramáticos, quando inseridos na Educação Infantil, têm como objetivo o desenvolvimento pessoal dos jogadores e não a satisfação da plateia, pois esta não existe, constituindo-se apenas por indivíduos do próprio grupo, além de permitir a criança simular e explorar situações cotidianas, sendo um excelente meio para estimular a criança a se expressar. Ao contrário do ator que finge ser a personagem, no jogo dramático a criança é a personagem que inventa ou imita.

No jogo dramático todos participam de maneira livre e espontânea, pois não há plateia, não há ensaio e, portanto, não há desempenho das técnicas estabelecidas pelo teatro, constitui-se em um ambiente propício para o desenvolvimento de habilidades, tais como pensamento criativo, cooperação social, oralidade, entre outros.

 

Os jogos dramáticos dão à criança um meio de exteriorizar seus sentimentos profundos e suas observações pessoais, pelo exercício do movimento de seu corpo e da voz. Seu objetivo é orientar e ampliar os desejos e as possibilidades de expressão da criança. (REVERBEL, 1997, p.108).

 

 

Conforme Reverbel (1997), os jogos dramáticos são uma maneira dos alunos, enquanto sujeitos sociais, integrarem-se de forma criativa, produtiva e participativa, é uma ferramenta pedagógica eficiente no desenvolvimento da criança pequena, possibilitando o discernimento perante os problemas que irá enfrentar ao longo da vida.

 

Ao desenvolver atividades de expressão artística baseadas no jogo dramático infantil, não se pretende formar uma artista, mas um ser espontâneo, vivo, dinâmico, capaz de exteriorizar pensamentos, sentimentos e sensações e de utilizar diversas formas de linguagem. O objetivo das atividades é formar um ser social, apto a construir gradualmente sua própria escala de valores e desenvolver seu senso estético. (REVERBEL, 1997, p.36).

 

 

As atividades de expressão artística são consideradas uma forma de comunicação do sujeito com o seu meio, através de sinais, sons e gestos produzidos pelo corpo, caracterizando uma ligação entre os aspectos afetivos, motores, cognitivos e sociais, auxiliando no desenvolvimento das capacidades e habilidades nas crianças da Educação Infantil.

Para Piaget (2009 p.141), “os jogos de imaginação, tendo como subclasses as metamorfoses de objetos, as vivificações de brinquedos, às criações de brinquedos e também de brinquedos imaginários, as transformações de personagens e a representação em ato de estórias e contos”. A criança, quando aprende a imitar, imagina e re-cria tudo o que absorveu do cotidiano, representando através das histórias, cantigas e contos, passando a imitar a vida real.

Além de ser uma excelente atividade lúdica, os jogos dramáticos proporcionam às crianças pequenas formas de se expressarem de maneira livre e sem impedimentos, ao mesmo tempo em que ajudam na formação de seu senso crítico, social e moral.

 

Há uma variedade infinita de jogos dramáticos, uma gama nuançada de exercícios que vai desde o simples jogo de uma criança imitando uma personagem, uma profissão, até o jogo coletivo composto dos desejos e das ideais de cada um. As crianças se encontram assim diante de problemas a resolver: problemas de observação, de equilíbrio, de ritmo, de clareza, de expressão, de individualismo, de disciplina, de percepção etc.(REVERBEL, 1997, p.108/109).

 

 

O trabalho com jogos dramáticos na Educação Infantil consiste em uma área do conhecimento ligado as artes, onde o lúdico se apresenta de maneira fundamental no processo de ensino aprendizagem, pois quando esta atividade é induzida e orientada pelo educador, ajuda no desenvolvimento do trabalho individual e em equipe.

 

Pode-se afirmar sem dúvida que o jogo dramático aplicado na sala de aula é um estímulo indispensável no desenvolvimento das capacidades de expressão da criança. Realizando jogos dramáticos, a criança se diverte e libera espontaneamente suas fantasias e seus fantasmas interiores. Ao contrário do ator, que finge ser a personagem, a criança é a personagem que inventa ou imita. (REVERBEL, 1997 p.108).

 

 

Os jogos dramáticos oferecem à criança a oportunidade de se encontrar com ela mesma, pois é considerada uma atividade que dá ao aluno a possibilidade de expressar seus sentimentos, pensamentos e fantasias, espelho de sua realidade, ajudando-a a ter uma melhor compreensão do seu mundo.

Para Bassedas (1999), as noções espaciais e temporais são importantes na organização pessoal das crianças e, também, para o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e motoras, assim como o contato com objetos e a experiências que a criança tem por meio dos jogos dramáticos, quer sejam individuais, em grupo ou com um adulto, são situações permanentes de aprendizagens básicas, que ocorrem durante todo o período da Educação Infantil.

A individualidade, o coletivo, os sentimentos, as emoções e a inteligência são aspectos que fazem parte do universo social humano. Pode ser trabalhado o jogo dramático, aliando a imaginação, a dramatização, o lúdico com a expressão oral e corporal, considerando que é uma atividade que se dá através da improvisação de vivências das situações cotidianas, auxiliando no desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo de ensino aprendizagem.

A improvisação, como elemento essencial nos jogos dramáticos, possibilita aos alunos um saber diversificado, e a livre expressão de suas emoções, aflições, sensações e sentimentos. Para Boal (2008, p.284), “a improvisação é o exercício convencional que consiste em improvisar uma cena a partir de alguns elementos iniciais”, pois além de trabalhar a imaginação, a criatividade, a percepção trabalha questões como: a timidez, a fluência verbal e oportuniza experimentar e explorar a linguagem cênica.

De acordo com Bourge (1946 apud REVERBEL, 1997, p. 109) afirma que “os jogos dramáticos são improvisações a partir de temas dados, exercendo a criação artística das crianças, tendo como orientador do jogo o professor, para que não se torne uma brincadeira sem sentido, perdendo sua intenção pedagógica”.

Os jogos dramáticos são atividades lúdicas que contêm regras explícitas, onde os sujeitos realizam situações imaginárias, sendo importante que o professor, ao introduzir a dinâmica dramática, procure pesquisar e conhecer como funcionam os mecanismos destas atividades, pois não é apenas passatempo para as crianças, mas sim atividades lúdicas com o propósito de ensinar e educar.

O lúdico e o faz-de-conta no trabalho com a Educação Infantil, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998), manifestam-se primordialmente através da imitação. Cabe ao professor organizar situações em que ocorram interações de aprendizagem que representem personagens diferenciados possibilitando ações e reações, sejam no âmbito afetivo, emocional ou cognitivo.

 

 

Na brincadeira de faz-de-conta se produz um tipo de comunicação rica em matizes e que possibilita às crianças indagar sobre o mundo a sobre si mesma e por à prova seus conhecimentos no uso interativo de objetos e conversações. Através das brincadeiras e outras atividades cotidianas que ocorrem nas instituições de Educação infantil, a criança aprende a assumir papéis diferentes e, ao se colocar no lugar do outro, aprende a coordenar seu comportamento com os de seus parceiros e a desenvolver habilidades variadas, construindo sua Identidade. (OLIVEIRA, 2012, p.6)

 

 

As trocas de experiências ocorridas entre os alunos devem ser respeitadas, inclusive nas atividades individuais, pois a criança deve se sentir livre, baseado no prazer de brincar como gerador do processo produtivo. A criança tem a necessidade de estar livre frente às produções artísticas, pois a partir daí o aluno vai de encontro a si mesmo.

 O papel do educador é de suma importância, pois a criança, ao ingressar na Educação Infantil, vivencia o processo de socialização, estabelecendo contatos interpessoais. Sendo assim, os jogos dramáticos na escola oportunizam uma alternativa pedagógica, seja como processo para o desenvolvimento das atividades curriculares, seja como oficina de apoio.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 107) coloca que “a criança compreenda e contemple a diversidade da produção artística e também que haja a possibilidade do uso de diferenciados materiais para que sejam manipulados e transformados”. Dessa forma, a escola deve estar preparada para oferecer à criança possibilidades onde ela possa entrar em contato com variadas formas de expressão artísticas, onde os jogos dramáticos estejam inseridos, propiciando-lhe um ambiente em que ela possa criar inventar e construir.

 

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

 

Por meio deste estudo, buscou-se saber quais as contribuições que a utilização dos jogos dramáticos pode trazer para o desenvolvimento das habilidades necessárias ao processo de ensino aprendizagem dos alunos na Educação Infantil.

Para tanto, durante o Estágio Supervisionado na Educação Infantil, foram utilizadas diferentes linguagens do jogo dramático no desenvolvimento das habilidades necessárias ao processo de ensino aprendizagem, tais como brincadeira de faz-de-conta, interpretação de histórias e músicas (improvisação e dramatização).

 

 

 

A partir da análise das observações das atividades propostas, dos registros diários e do contexto pesquisado, foi possível perceber a importância de inserir atividades onde os jogos dramáticos estejam presentes, pois auxiliam no desenvolvimento da oralidade, da socialização, da criatividade, da expressão corporal como meio de comunicação social.

 

Na primeira aula foi contada uma história e a partir desta foi extraído elementos, solicitando às crianças a fazer de conta que eram estes elementos, como: pássaro, sol, mar, barco, entre outros. Quando foi pedido para ser a cor azul, eles pararam e um aluno falou: - O céu é azul! E logo todos se tornaram o céu, cada qual a seu modo. (BUENO, Solange. 03/09/2012).

 

O faz-de-conta proporciona ao educador conhecer a bagagem de vivências e experiências que as crianças possuem, ligando o abstrato ao concreto, pois quando foi solicitado ser a cor azul, que é um elemento abstrato, um aluno relacionou a cor com o objeto. Para Slade (1978), o jogo dramático na Educação Infantil ajuda no despertar da imaginação, proporcionando às crianças vivenciar situações imaginárias, autoras de sua própria realidade.

A atividade de faz-de-conta é um dos elementos presentes nos jogos dramáticos, pois possibilita às crianças pequenas momentos enriquecedores, auxiliando na construção das noções espaciais, através dos sentidos e de seus próprios deslocamentos, possibilitando-lhes a exploração e a organização do espaço onde está inserida, oportunizando-lhe a adaptação de seu corpo dentro do contexto espacial.

A oralidade é outra habilidade bastante trabalhada no jogo dramático, pois a linguagem é fundamental para a construção do pensamento, bem como das interações sociais

 

Outra proposta trabalhada foi o jogo dramático a partir de uma história contada. Primeiramente contou-se a história, após a professora organizou as personagens e recontou a história e conforme o andamento, os alunos dramatizavam as personagens. (BUENO, Solange 24/09/2012).

 

 

Os jogos dramáticos são brincadeiras direcionadas, com o intuito de desenvolver a criatividade, elemento essencial para o processo de ensino aprendizagem, além de ser um momento de descontração. Encorajando a criança a expressar seu universo fantástico, pois o drama proporciona às crianças mostrar o seu sentido das coisas e sentimentos, possibilitando-lhe uma maior compreensão de si mesma e do mundo que a rodeia.

 

 

A atividade de interpretar, através do jogo dramático, a letra da música de Toquinho “Aquarela” foi bastante interessante, pois enquanto a música tocava, as crianças ouviam e em seguida interpretavam os elementos contidos na música. A partir destas atividades, fiz uma reflexão acerca da importância dos jogos dramáticos dentro da Educação Infantil, pois possibilita à criança desenvolver a criatividade, o senso coletivo, a oralidade e o respeito às regras. (BUENO, Solange 05/10/2012).

 

 

O jogo dramático, enquanto atividade lúdica, proporciona ao educando o desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, ampliando a visão de si mesmo e de seu meio, possibilitando ao educador trabalhar conteúdos de forma diversificada, diminuindo o desinteresse, evitando assim a desmotivação por parte das crianças.

As atividades de improvisação foram riquíssimas e bem aceitas. Através destas atividades foram trabalhados os temas que tratavam sobre o conhecimento de mundo, como na história de Ziraldo “A Fábula de três Cores”, onde os alunos interpretavam os elementos contidos no texto, e, a partir disso, foram trabalhadas as cores dos objetos citados, permitindo assim uma relação entre cor e objeto.

Outra atividade considerada relevante, em relação aos aspectos educacionais, foi a interpretação da história “O Mundinho”, onde foi feito um jogo dramático, tratando de questões relativas a conservação do meio ambiente. A história referia-se a um mundinho que era feliz, onde, aos poucos, foram chegando pessoas que começaram a poluí-lo, deixando-o triste.

 

 

Esta atividade foi constituída da seguinte maneira: uma criança seria o mundinho, outra seria o espaço onde o mundinho estava inserido, outras crianças seriam os pássaros, peixes, flores, entre outros. Alguns alunos seriam as pessoas que habitavam o mundinho, sujando-o. Ao final da história foi mostrado para as crianças que o mundinho estaria feliz se as pessoas preservassem a fauna, a flora e também os rios, para que não fossem poluídos. (BUENO, Solange 24/09/2012).

 

 

A atividade de interpretação de histórias e músicas permite à criança utilizar a voz e o corpo para expressar experiências e sensações, possibilitando-lhe que vá para “dentro da história”, diferenciando de quando apenas a ouve.

Proporcionar atividades lúdicas e pedagógicas onde o jogo dramático esteja inserido no planejamento diário permitiu observar que a utilização da linguagem do jogo dramático possibilita à criança usar vários meios para a expressão de seus sentimentos e ideais, através de atividades de improvisação, onde ela é livre para criar sua personagem, podendo ser ela mesma.

 

 

O aluno A. e a aluna I. são alunos meigos, carinhosos, tranqüilos, participativos, mas em relação às atividades em grupo, notou-se uma certa timidez, tendo que chamá-los para participarem. Nas atividades onde os jogos dramáticos estavam inseridos, notou-se uma expressiva participação destes alunos, integrando-se com os demais. (BUENO, Solange. 05/10/2012).

 

 

Segundo Reverbel (1997), o jogo dramático é uma atividade de grupo, onde se deve aceitar a participação do outro e interagir com ele, motivando as crianças a agirem de forma individual, mas esta ação limita-se a uma ação que serve ao projeto comum.

Em relação à formação docente, os cursos de graduação em pedagogia, em especial este da presente acadêmica, oferta apenas uma disciplina no quarto semestre Jogo Teatral e Educação, que aborda o tema jogos dramáticos.

Nas disciplinas relacionadas à Educação Infantil, há uma grande abordagem sobre o lúdico e os jogos, mas não há um aprofundamento sobre as práticas dos jogos dramáticos na sala de aula da Educação Infantil, ficando a cargo do professor determinar qual atividade lúdica que melhor lhe convém.

 Devido à sua importância pedagógica, os cursos de graduação em pedagogia poderiam ter mais disciplinas relacionadas aos jogos dramáticos, pois são atividades que proporciona à criança exteriorizar conhecimentos acerca da realidade em que está inserida, além de trabalhar as emoções, os sentimentos, auxiliando o educador na elaboração do planejamento diário, conhecendo melhor as necessidades e as dificuldades de seus alunos.

Neste sentido, salienta-se a importância da formação continuada, a fim de que os educadores busquem qualificação constantemente, proporcionando, assim, aprendizagens significativas aos alunos.

 

 

O dinamismo hoje presente na área de Educação infantil, ao mesmo tempo em que tem criado esperanças, invoca a necessidade de ampliação dos processos de formação continuada para qualificar as práticas pedagógicas existentes na direção proposta. Muitas instituições encontram-se presas a modelos que já foram avaliados e julgados inadequados como instrumentos de educar e cuidar e promover o desenvolvimento das crianças. Em parte a presença desses modelos é devida à longa tradição assistencialista presente no processo de constituição da área de Educação Infantil, em particular em relação à creche, o que prejudicou a elaboração modelos pedagógicos mais afinados com as formas de promoção do desenvolvimento infantil. (OLIVEIRA, 2010 p.15).

 

 

Nas observações realizadas na Educação infantil, notou-se apenas que as professoras trabalham com o “teatrinho” em datas comemorativas, sendo que nesta fase do desenvolvimento infantil, o mais indicado seria trabalhar com jogos dramáticos, pois a Educação Infantil constitui-se em um espaço escolar onde prevalece o lúdico e o jogo dramático é uma excelente ferramenta pedagógica para a realização deste trabalho, por isso a importância dos cursos de graduação em pedagogia, proporcionar mais atividades com jogos dramáticos.

 

 

Outro fator presente quando se pensa na necessidade de se ter outra forma de trabalho junto às crianças, é a ausência de uma política de formação específica para os profissionais da Educação Infantil nos cursos de Pedagogia com uma explicitação clara de suas atribuições junto às crianças, particularmente em relação aquelas com idade entre zero a três anos. (OLIVEIRA, 2010 p.15).

 

 

Pode-se dizer que os jogos dramáticos auxiliam no desenvolvimento social e afetivo das crianças, que, a partir deles, podem expressar as suas percepções, uma vez que vivenciam formas de se relacionar com o outro e aprendem a lidar com situações sociais.

 

 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A partir dos estudos realizados e das atividades propostas nas observações acerca da prática vivenciada no Maternal II, pode-se relacionar e descrever as diferentes linguagens utilizadas nos jogos dramáticos na Educação Infantil e sua importância. Considerando que foram trabalhadas atividades de faz-de-conta que proporcionam aos educandos o desenvolvimento da criatividade e a capacidade de improvisar. Dentre essas, atividades lúdicas e pedagógicas; a interpretação de histórias e músicas, consideradas pedagógicas e que permitem aos alunos desenvolver a imaginação, interação social e respeito às regras.

É viável pontuar como contribuições do jogo dramático no desenvolvimento das habilidades necessárias durante o processo de ensino aprendizagem na Educação Infantil: o desenvolvimento da expressão oral e corporal, estabelecer relações lógicas, trabalha interações e habilidades sociais, integrando-se melhor em sua sociedade. Além disso, o professor também pode explorar variados temas, entre eles, a preservação do meio ambiente, valores e contos infantis. Concomitantemente, estimular a oralidade, a expressão corporal e o trabalho em equipe, desenvolvendo a autoconfiança, a imaginação, a espontaneidade e a criatividade, pois estão em ambientes não-críticos, sendo atividades que levam em consideração o universo particular da criança.

Espera-se que este estudo contribua para que os docentes que atuam na Educação Infantil reflitam acerca da importância de incluir os jogos dramáticos em seus planejamentos diários, compreendendo a necessidade de mantê-lo como parte do processo educativo. Também, para desmistificar a ideia de que o jogo dramático serve apenas como complemento recreativo para as crianças, sobretudo, sob a concepção do jogo dramático enquanto atividade que trabalha conceitos significativos e valores, como a criatividade, a responsabilidade e os limites

 

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

BASSEDAS, E. Aprender e Ensinar na Educação Infantil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

 

 

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. 11ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

 

 

BUENO, Solange Neves. Diário do Estágio Supervisionado na Educação Infantil. 2012.

 

 

CAMAROTTI, Marco. A Linguagem do teatro Infantil. São Paulo, Loyola, 1984.

 

 

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2009.

 

 

Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: Mec/Sef, 1998.

 

 

OLIVEIRA, Zilma de Moraes Ramos de. O Currículo na Educação Infantil: o que propões as novas Diretrizes Nacionais. 2010.

 

 

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança, imitação, jogos e sonho, imagem e representação. 3ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009.

 

 

REVERBEL, Olga. Um Caminho do Teatro na Escola. São Paulo: Scipione, 1997.

 

SEGAT, Taciana Camera. Infâncias em uma vila popular urbanapequenos sonhos na rudeza do cotidiano. Tese de doutorado. UFRGS, 2007.

 

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2007.

 

SLADE, Peter. O jogo dramático infantil. São Paulo: Summus, 1978.

 

SPOLIN, Viola. Improvisação para o Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1992.

 

UFSM. Caderno Didático Jogo Teatral e Educação. 2010

 

ZABALZA, Miguel. Diários de aula. Porto Alegre: Editora Porto, 1994.

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] Na introdução do Caderno Didático Jogo Teatral e Educação lê-se que ao “falarmos de teatro na educação constitui-se em uma perspectiva mais ampla de arte-educação no qual o objetivo é utilizar o processo de expressão artística como uma possibilidade a mais no desenvolvimento humano”(2010, p.12).

 

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