UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A DISTÂNCIA |
EXPRESSÃO ARTÍSTICA: UMA EXPERIÊNCIA
COM JOGOS DRAMÁTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
BUENO, Solange Neves
Acadêmica do Curso de Pedagogia EAD – Polo de São Lourenço do Sul.
RESUMO
O presente estudo buscou analisar a
importância dos jogos dramáticos na Educação Infantil e sua contribuição para o
desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo de ensino
aprendizagem. Para buscar responder o objetivo proposto, optou-se pela pesquisa
participante. Elegeu-se como instrumentos para a coleta de dados, a observação
participante e o Diário. O contexto investigado foi uma Escola Municipal de
Educação Infantil, que atende em média oitenta alunos. Os sujeitos participantes
da pesquisa foram os alunos da turma do Maternal II, composta de vinte e dois
alunos, sendo que oito são meninas e quatorze meninos. Durante o Estágio
Supervisionado na Educação Infantil, foram utilizadas diferentes linguagens do
jogo dramático no desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo
de ensino aprendizagem, tais como brincadeira de faz-de-conta, interpretação de
histórias e músicas (improvisação e dramatização). Proporcionar reflexões
acerca da formação docente, ressaltando a importância da formação continuada. A
partir da análise das observações das atividades propostas, dos registros
diários e do contexto pesquisado, foi possível perceber a importância de
inserir atividades onde os jogos dramáticos estejam presentes, pois auxiliam no
desenvolvimento da oralidade, da socialização, da criatividade, da expressão
corporal como meio de comunicação social. Pode-se pontuar como contribuições do
jogo dramático no desenvolvimento das habilidades necessárias ao processo de
ensino aprendizagem na Educação Infantil, o desenvolvimento da expressão oral e
corporal, por estabelecer relações lógicas, trabalhar interações e habilidades
sociais na turma.
Palavras-chave: Jogos dramáticos; Educação Infantil;
Ensino aprendizagem.
INTRODUÇÃO
Ao
longo dos tempos, a experiência com jogos dramáticos enquanto atividade
educacional continua a estimular o pensamento e educadores contemporâneos, pois
a expressão artística e corporal está presente praticamente em todas as
culturas.
O
trabalho com jogos dramáticos na instituição escolar infantil tem uma
importância fundamental, considerando que assim o aluno aprende a improvisar,
desenvolve a socialização, criatividade, coordenação, atenção, oralidade,
leitura, expressão corporal, habilidades para as artes plásticas. Além de
trabalhar o emocional, cidadania, ética, sentimentos, interdisciplinaridade,
propicia o contato com obras clássicas, fábulas infantis.
O
Jogo Dramático infantil consiste em uma atividade onde os envolvidos se
utilizam de elementos pessoais para seu desenvolvimento, como criatividade,
jogo de imaginação, fantasia e emoção, geralmente, tendo como temas os contos
de fadas, fábulas, poemas, datas comemorativas, entre outros.
Optou-se
pelo referido tema, pois, durante as observações realizadas na escola de
Educação Infantil, notou-se a necessidade de explorar mais essa área do
conhecimento, visto que os professores que atuam neste nível de educação
desenvolvem poucas atividades relacionadas aos jogos dramáticos em sala de
aula. Sendo assim, torna-se importante realizar uma pesquisa para buscar
saber quais são as contribuições que os jogos dramáticos podem trazer
para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo de ensino
aprendizagem dos alunos na Educação Infantil?
Para
dar conta da problemática proposta, este trabalho tem como objetivo geral:
analisar a importância dos jogos dramático na Educação Infantil e sua
contribuição para o desenvolvimento das habilidades necessárias para o processo
de ensino aprendizagem.
Definiram-se
como objetivos específicos: descrever e relacionar as diferentes linguagens
utilizadas nos jogos dramáticos na Educação Infantil e sua importância;
proporcionar atividades lúdicas e pedagógicas onde o jogo dramático esteja
inserido no planejamento diário; refletir acerca da formação docente, em
relação à preparação destes profissionais, para o trabalho com jogos dramáticos
na Educação Infantil.
Através
do referido estudo, espera-se trazer subsídios para que os educadores que atuam
neste nível de ensino possam refletir acerca das contribuições que os jogos
dramáticos podem trazer para o desenvolvimento das habilidades necessárias no
processo de ensino aprendizagem.
2 METODOLOGIA
Este
estudo utilizou a pesquisa participante, visto que se trata de um enfoque de
investigação social e é considerada a mais indicada para esta pesquisa. De
acordo com Severino (2007), denominada como um tipo de pesquisa, onde o
observador compartilha o cotidiano dos sujeitos estudados, participando de
forma sistemática e permanente durante as pesquisas e nas atividades
relacionadas aos objetos de estudo. O pesquisador busca espaços para a
aproximação e a construção da identificação dos sujeitos pesquisados, passando
a interagir com eles em todas as situações.
O contexto investigado foi uma Escola Municipal de Educação Infantil Tia
Margarida, situada à Avenida Marechal Floriano Peixoto 2777, no Bairro Lomba,
tendo como órgão mantenedor a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e
Desporto.
A
escola atende aproximadamente oitenta alunos, com idades de quatro meses e meio
a quatro anos de idade, divididos em quatro turmas: Berçário I crianças de
quatro meses e meio até um ano de idade, Berçário II crianças de um ano até
dois anos de idade, Maternal I crianças de dois até três anos de idade e
Maternal II crianças de três anos até quatro anos de idade. A comunidade
escolar é constituída principalmente por pessoas de classe média baixa.
Os
sujeitos participantes da pesquisa foram os alunos da turma do Maternal II,
composta de vinte e dois alunos, sendo oito meninas e quatorze meninos. As
crianças eram bastante participativas, apresentando comportamentos variados, ou
seja, uns mais calados, outros mais extrovertidos e, em relação às atividades
onde os jogos dramáticos estavam inseridos, percebia-se que os alunos gostavam
e se envolviam nas atividades de maneira satisfatória.
Para
a coleta de dados, utilizou-se a observação participante e os registros
descritos no diário de aula. Segundo Chizzotti, na observação participante
[...] o observador participa em
interação constante em todas as situações, espontâneas e formais, acompanhando
as ações cotidianas e habituais, as circunstancias e sentido dessas ações e
interrogando sobre as razões e significados dos seus atos (2009, p.91).
Para
Zabalza (1994), diário de aula é muito importante e necessário, pois nele estão
contidas as reflexões, os pensamentos e as dificuldades encontradas em práticas
pedagógicas, correspondendo ao momento de desenvolvimento profissional via
“reflexão da ação”, podendo o professor posicionar-se melhor no exercício da
docência, diante de situações reais, concretas, relativamente inesperadas, ao
qual o ele pode estar previamente preparado.
Deixando
assim o pesquisador a par da realidade ao qual está inserido, sendo considerada
a técnica mais apropriada para esta pesquisa, visto que o presente artigo
esteve vinculado à prática do Estágio Supervisionado na Educação Infantil, pois
a mesma coloca o pesquisador direto com a ação observada.
A
análise dos dados foi realizada de forma descritiva, sendo que se procurou
descrever as vivências em sala de aula. Portanto, a pesquisa evidencia, através
dos estudos e das observações feitas na Educação Infantil, a importância da
inserção de atividades onde os jogos dramáticos estejam presentes,
possibilitando aos educadores uma reflexão em torno da temática proposta.
3 JOGO DRAMÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
3.1 Conceituando o Jogo Dramático
O
jogo dramático antecede o jogo teatral[1], pois consiste
em uma atividade lúdica de interpretações, dramatizações e improvisações do
universo pessoal, que aliado à educação possibilita aos alunos um conhecimento
lúdico e diversificado, havendo um ambiente livre onde a criança libera as suas
potencialidades e aprimora as suas capacidades.
Desta
forma, o educador deve propiciar a estes educandos, espaços pedagógicos, a fim
de que os alunos sintam-se estimulados a experimentar o teatro, possibilitando
um maior contato consigo mesmo e com o grupo no qual está inserido, pois além
de constituir em uma atividade que as crianças apreciam bastante, também
proporcionam a construção de aprendizagens, possibilitando uma forma de ensino
mais dinâmica e motivadora.
Olga
Reverbel (1997) observa que os principais estudiosos do assunto salientam o
quanto o jogo dramático é importante para o desenvolvimento e a expressão
corporal do aluno e apresenta a improvisação como a base do jogo. A respeito
da improvisação Viola Spolin (1992), afirma que improvisar é resolver os
problemas imediatos, que surgem no "aqui e agora", nos momentos de
atuação ou improvisação.
Durante
as atividades educativas, os jogos dramáticos possibilitam às crianças
improvisarem, buscando soluções inusitadas para as situações que lhes são
apresentadas, interagindo de maneira individual ou em grupo, brincando e
aprendendo.
Quando
a criança interpreta uma personagem ou dramatiza uma situação, mostra uma parte
de sua personalidade, revelando a sua percepção de mundo, sendo considerada uma
atividade artística onde o educando passa a expressar-se, explorando todas as
formas de comunicação humana.
Assim
melhora sua autoestima, ampliando sua visão crítica, torna-os mais abertos ao
mundo em que vive, valorizando-os e integrando-os harmoniosamente junto a uma
equipe, um grupo, tornando-o um indivíduo mais responsável e cooperativista.
Além disso, possibilitando-lhe o crescimento individual e grupal,
propiciando-lhe a complementaridade das diferenças, fortalecendo na criança os
laços e promovendo o respeito mútuo, fazendo com que aprenda diante da diversidade.
Segundo
Camarotti (1984, p.31), “o jogo dramático Infantil constitui-se em uma
encenação da realidade, mas não é teatro, pois não é feito para ser levada a um
público e nele a criança não representa propriamente uma personagem, mas apenas
se libera, interpretando a si mesma”.
3.2 Jogos dramáticos na Educação
Infantil: possibilidades de expressão da criança
Os
Jogos Dramáticos, quando inseridos na Educação Infantil, têm como objetivo o
desenvolvimento pessoal dos jogadores e não a satisfação da plateia, pois esta
não existe, constituindo-se apenas por indivíduos do próprio grupo, além de
permitir a criança simular e explorar situações cotidianas, sendo um excelente
meio para estimular a criança a se expressar. Ao contrário do ator que finge
ser a personagem, no jogo dramático a criança é a personagem que inventa ou
imita.
No
jogo dramático todos participam de maneira livre e espontânea, pois não há
plateia, não há ensaio e, portanto, não há desempenho das técnicas
estabelecidas pelo teatro, constitui-se em um ambiente propício para o
desenvolvimento de habilidades, tais como pensamento criativo, cooperação
social, oralidade, entre outros.
Os jogos dramáticos dão à criança um
meio de exteriorizar seus sentimentos profundos e suas observações pessoais,
pelo exercício do movimento de seu corpo e da voz. Seu objetivo é orientar e
ampliar os desejos e as possibilidades de expressão da criança. (REVERBEL,
1997, p.108).
Conforme
Reverbel (1997), os jogos dramáticos são uma maneira dos alunos, enquanto
sujeitos sociais, integrarem-se de forma criativa, produtiva e participativa, é
uma ferramenta pedagógica eficiente no desenvolvimento da criança pequena,
possibilitando o discernimento perante os problemas que irá enfrentar ao longo
da vida.
Ao desenvolver atividades de expressão
artística baseadas no jogo dramático infantil, não se pretende formar uma
artista, mas um ser espontâneo, vivo, dinâmico, capaz de exteriorizar
pensamentos, sentimentos e sensações e de utilizar diversas formas de
linguagem. O objetivo das atividades é formar um ser social, apto a construir
gradualmente sua própria escala de valores e desenvolver seu senso estético.
(REVERBEL, 1997, p.36).
As
atividades de expressão artística são consideradas uma forma de comunicação do
sujeito com o seu meio, através de sinais, sons e gestos produzidos pelo corpo,
caracterizando uma ligação entre os aspectos afetivos, motores, cognitivos e
sociais, auxiliando no desenvolvimento das capacidades e habilidades nas
crianças da Educação Infantil.
Para
Piaget (2009 p.141), “os jogos de imaginação, tendo como subclasses as
metamorfoses de objetos, as vivificações de brinquedos, às criações de
brinquedos e também de brinquedos imaginários, as transformações de personagens
e a representação em ato de estórias e contos”. A criança, quando aprende a
imitar, imagina e re-cria tudo o que absorveu do cotidiano, representando
através das histórias, cantigas e contos, passando a imitar a vida real.
Além
de ser uma excelente atividade lúdica, os jogos dramáticos proporcionam às
crianças pequenas formas de se expressarem de maneira livre e sem impedimentos,
ao mesmo tempo em que ajudam na formação de seu senso crítico, social e moral.
Há uma variedade infinita de jogos
dramáticos, uma gama nuançada de exercícios que vai desde o simples jogo de uma
criança imitando uma personagem, uma profissão, até o jogo coletivo composto
dos desejos e das ideais de cada um. As crianças se encontram assim diante de problemas
a resolver: problemas de observação, de equilíbrio, de ritmo, de clareza, de
expressão, de individualismo, de disciplina, de percepção etc.(REVERBEL, 1997,
p.108/109).
O
trabalho com jogos dramáticos na Educação Infantil consiste em uma área do conhecimento
ligado as artes, onde o lúdico se apresenta de maneira fundamental no processo
de ensino aprendizagem, pois quando esta atividade é induzida e orientada pelo
educador, ajuda no desenvolvimento do trabalho individual e em equipe.
Pode-se afirmar sem dúvida que o jogo
dramático aplicado na sala de aula é um estímulo indispensável no
desenvolvimento das capacidades de expressão da criança. Realizando jogos
dramáticos, a criança se diverte e libera espontaneamente suas fantasias e seus
fantasmas interiores. Ao contrário do ator, que finge ser a personagem, a
criança é a personagem que inventa ou imita. (REVERBEL, 1997 p.108).
Os
jogos dramáticos oferecem à criança a oportunidade de se encontrar com ela
mesma, pois é considerada uma atividade que dá ao aluno a possibilidade de
expressar seus sentimentos, pensamentos e fantasias, espelho de sua realidade,
ajudando-a a ter uma melhor compreensão do seu mundo.
Para
Bassedas (1999), as noções espaciais e temporais são importantes na organização
pessoal das crianças e, também, para o desenvolvimento de suas habilidades
cognitivas e motoras, assim como o contato com objetos e a experiências que a
criança tem por meio dos jogos dramáticos, quer sejam individuais, em grupo ou
com um adulto, são situações permanentes de aprendizagens básicas, que ocorrem
durante todo o período da Educação Infantil.
A
individualidade, o coletivo, os sentimentos, as emoções e a inteligência são
aspectos que fazem parte do universo social humano. Pode ser trabalhado o jogo
dramático, aliando a imaginação, a dramatização, o lúdico com a expressão oral
e corporal, considerando que é uma atividade que se dá através da improvisação
de vivências das situações cotidianas, auxiliando no desenvolvimento das
habilidades necessárias para o processo de ensino aprendizagem.
A
improvisação, como elemento essencial nos jogos dramáticos, possibilita aos
alunos um saber diversificado, e a livre expressão de suas emoções, aflições,
sensações e sentimentos. Para Boal (2008, p.284), “a improvisação é o exercício
convencional que consiste em improvisar uma cena a partir de alguns elementos
iniciais”, pois além de trabalhar a imaginação, a criatividade, a percepção
trabalha questões como: a timidez, a fluência verbal e oportuniza experimentar
e explorar a linguagem cênica.
De
acordo com Bourge (1946 apud REVERBEL, 1997, p. 109) afirma que “os jogos
dramáticos são improvisações a partir de temas dados, exercendo a criação
artística das crianças, tendo como orientador do jogo o professor, para que não
se torne uma brincadeira sem sentido, perdendo sua intenção pedagógica”.
Os
jogos dramáticos são atividades lúdicas que contêm regras explícitas, onde os
sujeitos realizam situações imaginárias, sendo importante que o professor, ao
introduzir a dinâmica dramática, procure pesquisar e conhecer como funcionam os
mecanismos destas atividades, pois não é apenas passatempo para as crianças,
mas sim atividades lúdicas com o propósito de ensinar e educar.
O
lúdico e o faz-de-conta no trabalho com a Educação Infantil, segundo o
Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998), manifestam-se
primordialmente através da imitação. Cabe ao professor organizar situações em
que ocorram interações de aprendizagem que representem personagens
diferenciados possibilitando ações e reações, sejam no âmbito afetivo,
emocional ou cognitivo.
Na brincadeira de faz-de-conta se
produz um tipo de comunicação rica em matizes e que possibilita às crianças
indagar sobre o mundo a sobre si mesma e por à prova seus conhecimentos no uso
interativo de objetos e conversações. Através das brincadeiras e outras
atividades cotidianas que ocorrem nas instituições de Educação infantil, a
criança aprende a assumir papéis diferentes e, ao se colocar no lugar do outro,
aprende a coordenar seu comportamento com os de seus parceiros e a desenvolver
habilidades variadas, construindo sua Identidade. (OLIVEIRA, 2012, p.6)
As
trocas de experiências ocorridas entre os alunos devem ser respeitadas,
inclusive nas atividades individuais, pois a criança deve se sentir livre,
baseado no prazer de brincar como gerador do processo produtivo. A criança tem
a necessidade de estar livre frente às produções artísticas, pois a partir daí
o aluno vai de encontro a si mesmo.
O
papel do educador é de suma importância, pois a criança, ao ingressar na
Educação Infantil, vivencia o processo de socialização, estabelecendo contatos
interpessoais. Sendo assim, os jogos dramáticos na escola oportunizam uma
alternativa pedagógica, seja como processo para o desenvolvimento das
atividades curriculares, seja como oficina de apoio.
O
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 107)
coloca que “a criança compreenda e contemple a diversidade da produção
artística e também que haja a possibilidade do uso de diferenciados materiais
para que sejam manipulados e transformados”. Dessa forma, a escola deve estar
preparada para oferecer à criança possibilidades onde ela possa entrar em
contato com variadas formas de expressão artísticas, onde os jogos dramáticos
estejam inseridos, propiciando-lhe um ambiente em que ela possa criar inventar
e construir.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por
meio deste estudo, buscou-se saber quais as contribuições que a utilização dos
jogos dramáticos pode trazer para o desenvolvimento das habilidades necessárias
ao processo de ensino aprendizagem dos alunos na Educação Infantil.
Para
tanto, durante o Estágio Supervisionado na Educação Infantil, foram utilizadas
diferentes linguagens do jogo dramático no desenvolvimento das habilidades
necessárias ao processo de ensino aprendizagem, tais como brincadeira de
faz-de-conta, interpretação de histórias e músicas (improvisação e
dramatização).
A partir da análise das observações das
atividades propostas, dos registros diários e do contexto pesquisado, foi
possível perceber a importância de inserir atividades onde os jogos
dramáticos estejam presentes, pois auxiliam no desenvolvimento da oralidade,
da socialização, da criatividade, da expressão corporal como meio de
comunicação social. |
Na primeira aula foi contada uma
história e a partir desta foi extraído elementos, solicitando às crianças a
fazer de conta que eram estes elementos, como: pássaro, sol, mar, barco, entre
outros. Quando foi pedido para ser a cor azul, eles pararam e um aluno falou: -
O céu é azul! E logo todos se tornaram o céu, cada qual a seu modo. (BUENO,
Solange. 03/09/2012).
O
faz-de-conta proporciona ao educador conhecer a bagagem de vivências e
experiências que as crianças possuem, ligando o abstrato ao concreto, pois
quando foi solicitado ser a cor azul, que é um elemento abstrato, um aluno
relacionou a cor com o objeto. Para Slade (1978), o jogo dramático na Educação
Infantil ajuda no despertar da imaginação, proporcionando às crianças vivenciar
situações imaginárias, autoras de sua própria realidade.
A
atividade de faz-de-conta é um dos elementos presentes nos jogos dramáticos,
pois possibilita às crianças pequenas momentos enriquecedores, auxiliando na
construção das noções espaciais, através dos sentidos e de seus próprios
deslocamentos, possibilitando-lhes a exploração e a organização do espaço onde
está inserida, oportunizando-lhe a adaptação de seu corpo dentro do contexto
espacial.
A
oralidade é outra habilidade bastante trabalhada no jogo dramático, pois a linguagem
é fundamental para a construção do pensamento, bem como das interações sociais
Outra proposta trabalhada foi o jogo
dramático a partir de uma história contada. Primeiramente contou-se a história,
após a professora organizou as personagens e recontou a história e conforme o
andamento, os alunos dramatizavam as personagens. (BUENO, Solange 24/09/2012).
Os
jogos dramáticos são brincadeiras direcionadas, com o intuito de desenvolver a
criatividade, elemento essencial para o processo de ensino aprendizagem, além
de ser um momento de descontração. Encorajando a criança a expressar seu
universo fantástico, pois o drama proporciona às crianças mostrar o seu sentido
das coisas e sentimentos, possibilitando-lhe uma maior compreensão de si mesma
e do mundo que a rodeia.
A atividade de interpretar, através do
jogo dramático, a letra da música de Toquinho “Aquarela” foi bastante
interessante, pois enquanto a música tocava, as crianças ouviam e em seguida
interpretavam os elementos contidos na música. A partir destas atividades, fiz
uma reflexão acerca da importância dos jogos dramáticos dentro da Educação
Infantil, pois possibilita à criança desenvolver a criatividade, o senso
coletivo, a oralidade e o respeito às regras. (BUENO, Solange 05/10/2012).
O
jogo dramático, enquanto atividade lúdica, proporciona ao educando o
desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, ampliando a visão de si mesmo e de
seu meio, possibilitando ao educador trabalhar conteúdos de forma
diversificada, diminuindo o desinteresse, evitando assim a desmotivação por
parte das crianças.
As
atividades de improvisação foram riquíssimas e bem aceitas. Através destas
atividades foram trabalhados os temas que tratavam sobre o conhecimento de
mundo, como na história de Ziraldo “A Fábula de três Cores”, onde os alunos
interpretavam os elementos contidos no texto, e, a partir disso, foram
trabalhadas as cores dos objetos citados, permitindo assim uma relação entre
cor e objeto.
Outra
atividade considerada relevante, em relação aos aspectos educacionais, foi a
interpretação da história “O Mundinho”, onde foi feito um jogo dramático,
tratando de questões relativas a conservação do meio ambiente. A história
referia-se a um mundinho que era feliz, onde, aos poucos, foram chegando
pessoas que começaram a poluí-lo, deixando-o triste.
Esta atividade foi constituída da
seguinte maneira: uma criança seria o mundinho, outra seria o espaço onde o
mundinho estava inserido, outras crianças seriam os pássaros, peixes, flores,
entre outros. Alguns alunos seriam as pessoas que habitavam o mundinho,
sujando-o. Ao final da história foi mostrado para as crianças que o mundinho
estaria feliz se as pessoas preservassem a fauna, a flora e também os rios,
para que não fossem poluídos. (BUENO, Solange 24/09/2012).
A
atividade de interpretação de histórias e músicas permite à criança utilizar a
voz e o corpo para expressar experiências e sensações, possibilitando-lhe que
vá para “dentro da história”, diferenciando de quando apenas a ouve.
Proporcionar
atividades lúdicas e pedagógicas onde o jogo dramático esteja inserido no
planejamento diário permitiu observar que a utilização da linguagem do jogo
dramático possibilita à criança usar vários meios para a expressão de seus
sentimentos e ideais, através de atividades de improvisação, onde ela é livre
para criar sua personagem, podendo ser ela mesma.
O aluno A. e a aluna I. são alunos
meigos, carinhosos, tranqüilos, participativos, mas em relação às atividades em
grupo, notou-se uma certa timidez, tendo que chamá-los para participarem. Nas
atividades onde os jogos dramáticos estavam inseridos, notou-se uma expressiva
participação destes alunos, integrando-se com os demais. (BUENO, Solange.
05/10/2012).
Segundo
Reverbel (1997), o jogo dramático é uma atividade de grupo, onde se deve
aceitar a participação do outro e interagir com ele, motivando as crianças a
agirem de forma individual, mas esta ação limita-se a uma ação que serve ao
projeto comum.
Em
relação à formação docente, os cursos de graduação em pedagogia, em especial
este da presente acadêmica, oferta apenas uma disciplina no quarto semestre
Jogo Teatral e Educação, que aborda o tema jogos dramáticos.
Nas
disciplinas relacionadas à Educação Infantil, há uma grande abordagem sobre o
lúdico e os jogos, mas não há um aprofundamento sobre as práticas dos jogos
dramáticos na sala de aula da Educação Infantil, ficando a cargo do professor
determinar qual atividade lúdica que melhor lhe convém.
Devido
à sua importância pedagógica, os cursos de graduação em pedagogia poderiam ter
mais disciplinas relacionadas aos jogos dramáticos, pois são atividades que
proporciona à criança exteriorizar conhecimentos acerca da realidade em que
está inserida, além de trabalhar as emoções, os sentimentos, auxiliando o
educador na elaboração do planejamento diário, conhecendo melhor as
necessidades e as dificuldades de seus alunos.
Neste
sentido, salienta-se a importância da formação continuada, a fim de que os
educadores busquem qualificação constantemente, proporcionando, assim,
aprendizagens significativas aos alunos.
O dinamismo hoje presente na área de
Educação infantil, ao mesmo tempo em que tem criado esperanças, invoca a
necessidade de ampliação dos processos de formação continuada para qualificar
as práticas pedagógicas existentes na direção proposta. Muitas instituições
encontram-se presas a modelos que já foram avaliados e julgados inadequados
como instrumentos de educar e cuidar e promover o desenvolvimento das crianças.
Em parte a presença desses modelos é devida à longa tradição assistencialista
presente no processo de constituição da área de Educação Infantil, em
particular em relação à creche, o que prejudicou a elaboração modelos
pedagógicos mais afinados com as formas de promoção do desenvolvimento
infantil. (OLIVEIRA, 2010 p.15).
Nas
observações realizadas na Educação infantil, notou-se apenas que as professoras
trabalham com o “teatrinho” em datas comemorativas, sendo que nesta fase do
desenvolvimento infantil, o mais indicado seria trabalhar com jogos dramáticos,
pois a Educação Infantil constitui-se em um espaço escolar onde prevalece o
lúdico e o jogo dramático é uma excelente ferramenta pedagógica para a
realização deste trabalho, por isso a importância dos cursos de graduação em
pedagogia, proporcionar mais atividades com jogos dramáticos.
Outro fator presente quando se pensa na
necessidade de se ter outra forma de trabalho junto às crianças, é a ausência
de uma política de formação específica para os profissionais da Educação
Infantil nos cursos de Pedagogia com uma explicitação clara de suas atribuições
junto às crianças, particularmente em relação aquelas com idade entre zero a
três anos. (OLIVEIRA, 2010 p.15).
Pode-se
dizer que os jogos dramáticos auxiliam no desenvolvimento social e afetivo das
crianças, que, a partir deles, podem expressar as suas percepções, uma vez que
vivenciam formas de se relacionar com o outro e aprendem a lidar com situações
sociais.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
partir dos estudos realizados e das atividades propostas nas observações acerca
da prática vivenciada no Maternal II, pode-se relacionar e descrever as
diferentes linguagens utilizadas nos jogos dramáticos na Educação Infantil e
sua importância. Considerando que foram trabalhadas atividades de faz-de-conta
que proporcionam aos educandos o desenvolvimento da criatividade e a capacidade
de improvisar. Dentre essas, atividades lúdicas e pedagógicas; a interpretação
de histórias e músicas, consideradas pedagógicas e que permitem aos alunos
desenvolver a imaginação, interação social e respeito às regras.
É
viável pontuar como contribuições do jogo dramático no desenvolvimento das
habilidades necessárias durante o processo de ensino aprendizagem na Educação
Infantil: o desenvolvimento da expressão oral e corporal, estabelecer relações lógicas,
trabalha interações e habilidades sociais, integrando-se melhor em sua
sociedade. Além disso, o professor também pode explorar variados temas, entre
eles, a preservação do meio ambiente, valores e contos infantis.
Concomitantemente, estimular a oralidade, a expressão corporal e o trabalho em
equipe, desenvolvendo a autoconfiança, a imaginação, a espontaneidade e a
criatividade, pois estão em ambientes não-críticos, sendo atividades que levam
em consideração o universo particular da criança.
Espera-se
que este estudo contribua para que os docentes que atuam na Educação Infantil
reflitam acerca da importância de incluir os jogos dramáticos em seus
planejamentos diários, compreendendo a necessidade de mantê-lo como parte do
processo educativo. Também, para desmistificar a ideia de que o jogo dramático
serve apenas como complemento recreativo para as crianças, sobretudo, sob a
concepção do jogo dramático enquanto atividade que trabalha conceitos
significativos e valores, como a criatividade, a responsabilidade e os limites
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ZABALZA, Miguel. Diários de
aula. Porto Alegre: Editora Porto, 1994.
[1] Na
introdução do Caderno Didático Jogo Teatral e Educação lê-se que ao “falarmos
de teatro na educação constitui-se em uma perspectiva mais ampla de
arte-educação no qual o objetivo é utilizar o processo de expressão artística
como uma possibilidade a mais no desenvolvimento humano”(2010, p.12).
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